62 km pelo rio camaquã...
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local da partida |
Depois de mais de um ano da última
aventura que fiz de caiaque pelo rio Piratini, resolvi começar os planos para uma nova
jornada, só que dessa vez pelo rio Camaquã, em um trajeto de 150 km com começo
na BR 392 entre Santana da Boa Vista e Canguçu e com fim previsto para a cidade
de Cristal, na BR 116. Com certeza essa será melhor que a que fiz pelo rio
Piratini, pois se trata de um rio com correnteza mais forte durante todo o
percurso e com lugares muito mais bonitos dos que vi anteriormente pelo rio
Piratini. Será utilizado um caiaque da marca Brudden modelo trine com menos
estabilidade, porém um caiaque muito mais rápido. Pretendo fazer o
trajeto em no máximo 4 dias, com acampamentos já definidos no plano de
viagem, executado com base em relatos de outros aventureiros e materiais
extraídos de blog's pesquisados na internet. A idéia dessa aventura é continuar
conhecendo os lugares menos frequentados do nosso Estado, onde ainda a natureza
é o mais natural possível, sem a interferência humana. Levarei menos material,
comida e água, mas tudo foi calculado com margem de segurança, tive que fazer
isso devido às limitações de peso,volume e também por experiência adquirida em outras remadas.
Conhecendo o
local de partida...
Antes de definir o dia certo para o começo
da aventura resolvi conhecer o ponto de partida da descida do rio camaquã,
aproveitei uma viagem que tive que fazer e tirei algumas fotos do local. O
local de partida fica dentro de uma propriedade particular entre a cidade de
Canguçu e Santana da Boa Vista, pedi autorização para chegar as margens do rio
por dentro da propriedade para conhecer o local. No local há uma pousada como o
nome de Pousada Costa do Camaquã na BR 392 Km 181, lugar muito legal
para passar uns dias de férias... Quanto ao rio fiquei impressionado com a correnteza,
qualquer pessoa com pouco preparo físico, mas com algumas noções e técnicas de
remo se sai bem em um rio assim. Só espero que o tempo não atrapalhe meus
planos ficarei de olho nas previsões de tempo próximo a data de
partida...
Organizando os
equipamentos...
Alguns dias atrás comecei a organizar o
material para essa descida, revisando caiaque, equipamentos de segurança,
listas de mantimentos para comprar, enfim, toda a tralha necessária para uma
aventura segura.
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arrumando as tralhas para teste |
Estipulei metas
de quilometragem diária a ser percorrida para um melhor aproveitamento do
trajeto e também para aproveitar o próprio passeio, não que seja cumprido a
risca, mas com certeza daria uma boa noção e dividiria melhor os 150 km nos 3
ou 4 dias de remada.
1º
Dia 09/12/2014 Saída as 10:15h Km 00
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1º dia fotos antes da partida. km 00 |
Dei início a descida do rio Camaquã onde o
mesmo é cortado pela BR 293 no km 181 na Pousada Costa do Camaquã por onde tive
acesso ao rio autorizado pela proprietária do local. O tempo estava nublado e o
rio com uma boa correnteza, segundo informações o nível do rio esta
ligeiramente acima da média. Nos primeiros quilômetros de remada não tive
problemas, o rio estava rápido, mas sem corredeiras até que no km 04 fui
obrigado a encostar em um trecho de pedras pela margem direita para avaliar a
primeira corredeira que me parecia meio forte, mas não muito longa. Andar com
um caiaque vazio é fácil, se consegue fazer manobras com certa facilidade, já
com o caiaque no limite de peso a história muda um pouco, é preciso cautela.
Visto o melhor local para passar recuei alguns metros alinhei o caiaque e fui.
Ao chegar perto deu para ver a primeira queda d’água e o friozinho na barriga
pegou. O caiaque entrou de bico e tomou toda a água que tinha direito, parecia
que eu estava andando em uma banheira cheia de água, mas tudo sob controle,
desviei algumas pedras grandes, o caiaque foi esvaziando e o rio se encarregou
do resto.
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km 12 |
No GPS marcou 24 km/h, mas parecia mais, pelo menos é a sensação que
tive, nunca tinha passado em uma corredeira assim antes, acho que me sai bem...
Após essa corredeira peguei varias outras em pontos onde o rio estreitava e/ou
havia muitas pedras no caminho, mas nada como a primeira que até então foi a
mais forte. Pelo caminho vi lugares realmente fantásticos, muitos animais, um
rio com muitas curvas, matas fechadas nas margens e morros enormes com muitas
pedras. Tirei muitas fotos, mas é impossível através delas passar a real
impressão do quanto é legal esse rio. Montei meu acampamento no km 37 após a
saída na margem direita do rio, um lugar alto com um campo limpo, ideal para
passar a noite. Fiz uma “bóia” por volta das 19:30h, pois o tempo estava
fechando rápido, aproveitei para marcar o nível do rio para amanhã ter noção do
quanto subiu. Pelas 21:30h começou um vento, raios e derrepente pareceu que o
céu veio abaixo, era tanta, mas tanta água que minha guerreira barraca que até
então nunca tinha deixado passar uma gota de água parecia uma peneira e foi
assim até umas 23:30h, se não fosse por um saco de dormir que levei com certeza
iria dormir
encharcado. Fiquei apreensivo o rio que já
estava um pouco acima do normal poderia piorar amanhã...
2º
dia 10/12/2014 Saída as 07:20h km 37
Acordei por volta das 06:00h, fiz um belo
café e após comecei a desmontar o acampamento quando fui visitado por um tatu
que passou rápido por perto da barraca e nem me viu, só o observei. Fui a
margem para verificar o nível do rio e o mesmo subiu mais de meio metro em
relação à ontem, confesso que com a chuva que caiu achei que subiria mais.
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acampamento no km 37 |
Parecia que a correnteza estava nitidamente mais rápida, notei que havia bancos
de areia recém submersos ao longo do trajeto devido ao nível mais alto, só
cuidava para não encalhar o caiaque nesses bancos e o resto foi moleza até
então. Após muitas outras corredeiras com pequenas quedas d’água, tive a
infelicidade de entrar errado em uma pequena queda e capotei o caiaque,
rapidamente comecei o procedimento para subir novamente quando a força da água
me puxou por baixo de árvores costeiras onde eu e o caiaque, ficamos presos e
separados tamanha era a pressão que a água exercia. Realmente eu fiquei
preocupado com a situação, não tinha chão para apoiar e a força da água acabava
com a tentativa de eu sair dali. Mantive a calma, pensei no que fazer para sair
dali, comecei a puxar galho a galho e passar o caiaque por baixo deles, pois
era impossível subir no caiaque. Acredito que fiquei uns quinze minutos ali,
mas parecia uma eternidade, não foi nada fácil. Muito cansado consegui nadar e
puxar o caiaque até um pequeno banco de areia a frente e ali deitei e
descansei, não sei por quanto tempo... Mesmo com todo o equipamento preso e bem
acondicionado no caiaque perdi poucas coisas sem muito valor que ficavam mais a
mão no caiaque e meu óculos de grau,
esse sim fará falta, pois minha visão para longe não é tão boa. Mas diante da
situação foi pouco, poderia sim ter sido muito mais. Sem meu óculos com a visão
distante um pouco embaçada fui obrigado a sair no próximo ponto de resgate onde
o rio passa por baixo da BR 471 totalizando 62 quilômetros de rio percorridos
em um dia e meio. Tive que conseguir um telefone emprestado, pois o meu não
tinha sinal para solicitar o resgate. Agradeço ao Sr. o qual não consegui
gravar seu nome, mas que de boa vontade me ajudou sem nada em troca. O restante
dos 150 quilômetros que pretendia fazer ficará para outra oportunidade, mas com
certeza absoluta não irei sozinho, não mais.
Conclusão
Adquiri com certeza mais experiência nessa
remada, mas acredito que me excedi nos riscos indo sozinho, o rio é belo, a
paisagem é fantástica, mas a natureza também tem seus perigos e não dá margem
para erros.
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local de resgate na BR 471 km 62 do rio. |
Um óculos, um par de chinelos, com certeza não foi nada diante da
situação que vivenciei, sempre uso equipamentos de segurança como o colete e
foi lendo relatos de aventureiros mundo a fora e um manual de sobrevivência que
me deram o conhecimento de que a calma é indispensável em situações de risco,
hoje pude confirmar e aplicar o conhecimento, acho que me sai bem. Faço esse
relato para pessoas que como eu gostam desses tipos de aventura na natureza,
para compartilhar as coisa boas, mas também para mostrar os riscos que existem
a questão é estar preparado para tudo. Sei que tem muita gente que passou bem
esse trecho de rio que fiz, com certeza não foi o meu caso, talvez pelo fato de
ter ido sozinho, uma ajuda faz a diferença nessas situações, não tenho problema
em dizer isso conheço meus limites e se tive a oportunidade de relatar isso é
porque estou aqui e de certo modo tudo saiu bem. Quanto ao lugar posso dizer
que ainda não passei por um mais bonito aqui na parte sul do Estado, as fotos e
vídeos que fiz não passam a real impressão do que vi e senti lá, em especial o
trecho do paredão que é fantástico, vale a pena conhecer ao menos uma vez na
vida. Recomendo esse trecho de rio, até faria novamente, mas com certeza não
mais sozinho, a troca de ideias também é segurança.
Agradeço a meu pai Walter e minha
madrasta, Stela pelo apoio e serviço de terra transportando e resgatando nos
locais que estive, a minha esposa Sabrina, mãe Helena e meus irmãos Wagner e
Victor por me apoiarem e mesmo não concordando com minhas loucuras estão sempre
comigo para o que der e vier.
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Trajeto em vermelho mostrando a saída e o resgate. |
Fotos tiradas nos dias 09 e 10/12/2014.
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paredão do rio camaquã km 21 |
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local do acampamento km 37 |
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paredão do rio camaquã |
A resolução do video não ficou muito boa mas dá para ter uma idéia...
E-mail: viniciuspel@ibest.com.br
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